Construtora, que fazia obras no BRT, alegou em processo que não tinha responsabilidade sobre funcionário terceirizado, mas Justiça deu ação a favor de dentista.
“Eu estou farta, eu estou exausta, estou cansada.” É este o sentimento da dentista Jéssica Mendes, de 29 anos, que lutou na Justiça por dois anos até conseguir uma indenização pelo assédio sofrido perto de um canteiro de obras.
Segundo a decisão da Justiça, a moradora da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, foi assediada e, ao tentar dar um basta nas agressões verbais que ouvia, foi ameaçada por um operário de uma construtora que prestava serviços obra do BRT.
A dentista caminhava para a academia quando um pedreiro começou a dizer coisas constrangedoras. Irritada, já que era o quarto dia seguido de piadas e ofensas, ela respondeu: “Cala a boca!”. Foi o suficiente para ser ameaçada pelo agressor.
“Ele tinha mexido comigo umas três vezes aquela semana e, como sempre, dizia ‘gostosa’, ‘nossa, que bundão’. Quando eu não aguentei mais, virei para trás e disse ‘cala a boca’. Ele falou ‘cala a boa, sua piranha. Vem aqui que eu vou botar no seu c*. Quando você voltar, você vai ver’. Foi isso. Ele continuava me chamando de vagabunda e eu saí andando constrangida e ameaçada”, contou.
Após o episódio, o medo na volta para casa e a insegurança se tornaram uma constante. No último mês, a Justiça do Rio condenou a empresa EIT Engenharia S/A, responsável pela obra, a pagar cerca de R$ 8 mil para a vítima.
Até conseguir o resultado favorável, o processo se arrastou por dois anos. Se no início a empresa alegava que o assédio não tinha ocorrido, após a apresentação de um vídeo, a empresa mudou a versão e chegou a dizer que não tinha responsabilidade sobre um funcionário terceirizado.
Jéssica Mendes afirmou que passou em frente ao local duas semanas depois do episódio. Mesmo achando que os ataques teriam acabado após a confusão, na época ela foi desrespeitada por mais três homens do mesmo canteiro de obras. Mesmo após dois anos da 1ª abordagem, a dentista garante que lembra de tudo.
“Eu lembro de tudo, exatamente. Eu lembro que estava nublado, eu lembro que eu estava de calça preta, eu lembro de onde ele estava. Depois disso tudo ter acontecido, eu abri o B.O., entrei com o processo, passou umas duas semanas e eu passei na frente da mesma obra. Dessa vez, não um, mas três caras da mesma obra do meu agressor mexeram comigo de novo. Só que dessa vez não fiz nada, abaixei a cabeça e fingi que aquilo não estava acontecendo”, disse.