No dia 11 de setembro deste ano, uma confusão tomou conta do 3º Juizado especial Cível de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A advogada Valéria dos Santos foi algemada por Policiais Militares após uma discussão com a juíza leiga Ethel Vasconcelos. A imagem de Valéria no chão, algemada e afirmando que era “mulher, trabalhadora, negra e advogada” logo tomou conta das redes sociais.
Após a confusão, uma investigação realizada por uma comissão judiciária entendeu que a advogada “se jogou no chão” e se debateu, e foi “momentaneamente” algemada para sua própria segurança. A juíza leiga não foi acusada de qualquer prática de abuso.
Quase dois meses depois do ocorrido, a magistrada resolveu falar em entrevista exclusiva à Jovem Pan sobre o ocorrido e afirmou que a sua “consciência está limpa”. Além disso, se voltasse àquele dia, “faria do mesmo jeito, faria tudo novamente”.
O caso
A juíza afirma que chegou ao Tribunal normalmente e foi atender os casos do dia. Segundo ela, como em qualquer outro caso, pediu a apresentação dos advogados com a carteirinha da OAB. A advogada Valéria dos Santos, segundo Ethel, disse que estava sem a carteirinha e que não estava portando qualquer outro documento de identificação com foto, impossibilitando assim, a confirmação de quem ela era.
Segundo Ethel, era a primeira vez que a advogada comparecia naquela comarca. “A procurei no Cadastro Nacional dos Advogados e de fato o nome dela ali constava , mas não tinha a foto. Ela pediu para eu acreditar nela, mas não é assim que as coisas funcionam, eu sigo o protocolo”, afirma “Ela não estava nem com a carteira de motorista, nada que tivesse uma foto dela e que comprovasse que era ela.”
A confusão iniciou quando Valéria viu que a juíza colocou na ata que ela estava sem a identificação. “Ela mudou totalmente, ficou agressiva, se exaltou, exigiu que eu chamasse o delegado da Ordem e que, daquele jeito, ela não assinaria a ata”, explicou.
Ainda segundo a magistrada, depois de 20 minutos, Valéria sacou da bolsa a carteira de identidade, que até aquele momento ela afirmava que não estava com ela, e disse que sairia da sala para buscar o delegado da Ordem. “Ela demorou cerca de 10 minutos. O réu estava impaciente porque tinha outra audiência, a cliente, sozinha, estava nervosa e, a pedido do réu, eu encerrei a audiência”, afirma Ethel.
De acordo com o relato da juíza, a advogada voltou mais alterada e mais agressiva, dizendo que queria ver a contestação. “Todos já haviam assinado e ela recusou a assinar e se recusou a se retirar da sala. Mandando eu refazer a audiência”, afirma. “Ela subiu no tablado, se aproximou de mim e exigiu, perto da minha pessoa, que eu refizesse o ato. Nisso ela cerra os punhos e exige que eu refaça a audiência. Foi nesse momento que eu temi por mim e pela minha segurança e apertei o botão de pânico chamando os seguranças para me ajudarem.”
Ethel explica que buscou abrigo em uma antessala, chamada de gabinete, e chamou o delegado da ordem. Segundo a juíza, ela não viu a hora que Valéria foi algemada e presa, mas ela afirma que não mandou prender e nem algemar. “Ela estava muito alterada, muito nervosa, mas depois que eu apertei o botão eu não vi mais nada, eu fiquei dentro da sala, não vi que ela foi algemada. Em momento algum eu mandei algemar ou prender”, diz. “Eu a tratei com urbanidade, cortesia e educação. Sem isso a gente não evolui. É o básico”.
A magistrada reitera que não é racista e que tem “vários amigos de diferentes etnias: negros, asiáticos, judeus” e que trata todos eles com “muito respeito e cortesia”. Apesar disso, Ethel diz que prefere não sair mais de sua casa, pois ainda é reconhecida em todo lugar. “As pessoas veem o vídeo e acham que eu sou um monstro”.
Sobre o seu silêncio desde o ocorrido, a juíza explica que só resolveu se manisfestar agora pois acredita que merece um direito de resposta. “A Constituição Federal garante o direito de resposta para todo o cidadão” e que as pessoas têm o direito de “saber o lado” dela.
Indagada como ela se sentiria se fosse a algemada, a juíza é enfática e diz que isso “nunca aconteceria, Deus me livre”, porque, caso discordasse com a magistrada, ela “não tentaria agredir ou exigir no grito que o ato fosse refeito”.
Fonte: UOL