Conheça os bastidores sem glamour.
Os estudantes de direito se deparam com uma visão de futuro bastante promissora, afinal, poucas são as graduações que oferecem tantas opções dentro do mesmo segmento.
No entanto, a maioria desses estudantes, receberam um repertório acadêmico tão extenso quanto sofrível, todavia, em boa parte, incapaz de dar sustentabilidade na carreira jurídica.
O sistema acadêmico brasileiro costuma maquiar a dura realidade de um mercado inchado, nutrindo uma promessa postiça de que basta “saber peticionar e cumprir prazos”, que o causídico conquistará a liberdade financeira e autonomia profissional que tanto sonhou.
Essas instituições estão mais voltadas às teses e regras, do que a sustentabilidade profissional dos seus alunos. Ao vivo a realidade é outra, e isso pode colidir com o baixo preparo emocional desses jovens.
Os estudantes de Direito, quando se formam e são aprovados no exame da ordem, geralmente se frustram ao vivenciar o caos no judiciário, acordos sofríveis, clientes, que no geral, cedem a concorrência desleal.
A dificuldade para sobreviver apenas da advocacia é tão grande, que tão logo se torne possível, eles partem para a carreira de concurseiro ou abandonam o sonho da advocacia, atuando em outro segmento.
Quando uma jovem estudante dá início à sua prática profissional, ocupando a função de estagiária, ela poderá sofrer sérias decepções se, por exemplo, o seu superior, ao invés de cumprir os ditames contratuais do regimento de estágio, vier a tratá-la como uma “advogada” disfarçada, impondo-lhe trabalhos estafantes e repetitivos, em razão da má-gestão do seu escritório, fazendo essa jovem perder dias e dias sem evoluir na carreira.
Temos também o exemplo do advogado em início de carreira, que faz a opção de abrir um escritório próprio, mas ele não foi preparado para tantos gastos e não lhe explicaram com clareza e honestidade que o retorno financeiro, na maioria das vezes, demora muito para acontecer, ainda mais se o profissional não tem um apoio especializado nas áreas de gestão e marketing.
Este mesmo jovem causídico não fazia ideia de que poderia entrar em conflito com antigos colegas de turma, agora sócios, afinal, eram “quase irmãos… Este jovem operador do direito também não imaginava que, após uma causa ganha e tanto empenho na defesa de um cliente, ele levaria três anos para receber os honorários sucumbenciais.
E em relação aos concursos públicos? Outro “jovem concurseiro” acreditou que seria fácil seguir na carreira pública, afinal, ele se dedicou por anos e anos ao edital. Mas “banda” não tocou tão afinada quanto parecia na solenidade de posse…
Aprovado no concurso da defensoria, certamente sonhava em viver experiências que envolveriam a promoção da justiça social e a realização do seu sonho de advogar sem ter que cobrar honorários, já que o seu “gordo” contracheque já estaria garantido, mas ao contrário disso, fora designado para confrontar toda a miséria, desumanidade e, muitas vezes, a ausência de uma estrutura mínima de trabalho, como por exemplo, a falta de impressora e ar-condicionado.
Aquele que alcançou a magistratura, tinha o objetivo e a ambição de promover a justiça social de modo independente, designando sentenças compassivas, que pudessem destacar sua humanidade, mas muitas vezes, experimentou a impotência e o sabor amargo da frustração, ao perceber que seus valores pessoais foram quase todos postos de lado, em razão do sistema.
Isso pode parecer “frescura” para muitos que não vivenciam essa realidade, mas para alguns juízes que eu atendi em sessões de coaching, muitas vezes, significou a irrecuperável “perda de identidade”, afinal, eles passam tantas horas trabalhando, que sua rotina laboral, se torna parte da sua essência, que se perdeu em meio aos prazos.
E você pode me perguntar: – Então, você quer me fazer desistir da carreira juridica?
Não! Longe de mim! Mas eu preciso te devolver uma pergunta…
Você já deve ter observado que, mesmo sem um “QI” elevado, riqueza de berço ou educação de elite, alguns operadores do direito conquistam um padrão de vida de dar inveja e até parecem predestinadas ao sucesso, como se tivessem o toque de midas.
Por outro lado, existe uma fatia do mercado jurídico, que com sua licença, ouso classificar como maioria na atualidade, que têm “tudo” para dar certo, mas perdem noites de sono e quantidades absurdas de tempo, energia e dinheiro, tentando alcançar, SEM SUCESSO, objetivos como: passar em um concurso público, sustentar seu escritório, cumprir prazos sem perder a família, atrair clientes rentáveis, obter reconhecimento na profissão.
Então, o que gera essa diferença na performance e nos resultados entre os operadores do direito?
Responderei junto com você, me acompanhe no raciocínio…
Quando eu estou ministrando treinamentos ou mesmo realizando sessões individuais de coaching, uma das primeiras coisas que pergunto é onde a pessoa vai estar daqui a 1 ano ou daqui a 5 anos, talvez em 10 anos.
Pasmem, mas 91% de todos os clientes e alunos que passaram por mim, até hoje, responderam ao me conhecer, que não tinham ideia de como seria sua visão de futuro, onde estariam daqui a 10 anos, que nunca pensaram a respeito de forma consciente ou nunca colocaram no papel.
E isso me faz refletir que existe uma trajetória a ser cumprida, que vai do ESTADO ATUAL para o ESTADO DESEJADO, e que gera essa diferença de resultados dentro no mesmo segmento profissional.
Esses profissionais mais destacados possuem habilidades peculiares, eles atuam com clareza, explorando o seu potencial, eliminando pontos fracos, desenhando seu propósito de vida, cumprindo seu plano de carreira, conhecendo seus pontos cegos e desconstruindo hábitos de autossabotagem.
O problema é que, a maioria dos estudantes e advogados não sabem onde estão e muito menos, onde querem chegar. O seu estado desejado é como você enxerga sua carreira juridica no futuro. O que você se vê fazendo, as experiências que você projeta, quanto vai estar ganhando, como serão seus sentimentos e interações com outras pessoas.
A verdade é que toda e qualquer situação negativa pode ser superada. Para isso, é necessário um apoio efetivo em áreas não contempladas na grade dos cursos de direito, afinal, o Brasil possui 1.240 cursos superiores de Direito, e apenas 8% deles, oferecem algum tipo de programa de coaching de carreira.
Contemplar o plano de carreira, é focar, por exemplo, na análise das tendências de personalidade, para mensurar o alinhamento na carreira escolhida, evitando a sensação de fracasso por escolhas não autenticas, no geral, motivadas apenas pelo medo da escassez financeira.
É necessário abrir o leque de opções e avaliar com cautela qual área de atuação melhor se encaixa com cada perfil, estilo de vida e perspectiva de progresso.
Não podemos esquecer da importância da gestão e do marketing jurídico, como bases estruturais da carreira jurídica, seja ela privada ou pública.
Visto por esse prisma, constatamos que o aluno de Direito deve, sim, ter esperança de sucesso na carreira, mas deve também estar ciente de que, na vida real, as coisas não são tão fáceis, e que é preciso ter inteligência emocional para driblar ou enfrentar as dificuldades que surgirem no decurso da profissão, e sempre que possível, buscar ajuda especializada para criar clareza e melhorar seus resultados.
É importante que esses jovens tenham consciência de que os grandes nomes do direito, os profissionais renomados que hoje abrilhantam o cenário jurídico, também passaram pelos mesmos percalços, mas tiveram resiliência para seguir em frente.
Mas eu não posso ser hipócrita. Se já estava difícil antes, imagina agora que chegamos a marca de 1milhão e 36mil advogados?
Os universitários devem ser devidamente orientados no sentido de que os problemas, as barreiras, os contratempos, são patamares de evolução, são degraus na subida para a realização pessoal e profissional. Os jovens precisam desenvolver tolerância à frustração, o que chamamos de resiliência. Precisam saber reagir com inteligência emocional quando algo não acontece como o esperado, sem ocuparem a posição de vítima, mas assumindo autoridade sobre suas escolhas e atitudes.
Independentemente da carreira escolhida dentro do Direito, a humildade é um item chave para a evolução profissional, afinal, a vaidade não costuma ser adimplente. Ser humilde não é ser submisso ou fraco, mas reconhecer as limitações temporárias e criar um plano de desenvolvimento factível, sem “mimimi”. Reconhecer as próprias limitações é a mola propulsora para mudar o cenário atual que não está agradando.
É essencial ter a capacidade de analisar o próprio comportamento e modificar os pontos que impedem o desenvolvimento pessoal.
Autopercepção e visão de futuro, são os dois elementos que criam um grande jurista e explicam a diferença de resultados entre profissionais do direito.
Também é importante lembrar aqui que nem tudo precisa ser encarado “a ferro e fogo”, por exemplo, um conflito com um sócio pode se apresentar como um evento negativo, e realmente o é, mas não há necessidade de judicializar a situação, quando se tem a opção célere e pacificadora de iniciar um processo de conciliação, falamos muito disso quando ensinamos sobre “advocacia não violenta”, uma ferramenta que modelei ao aplicar a CNV – Comunicação não Violenta, aos setores da carreira jurídica, desde o autoconhecimento até a prospecção de clientes.
Por último, a maturidade surge como um elemento alicerçador ao longo do caminho profissional. Nem todos os problemas estão no nosso controle, muitos estão além das nossas capacidades de resolução, para lidar com isso é necessário dispor de certas habilidades que incluem aceitar algumas condições, neutralizar alguns fatos, e absorver somente aquilo que realmente importa.
Tanto os universitários quanto os jovens advogados em início de carreira, devem ter em mente que a realidade do mundo jurídico ultrapassa, e muito, o quadro que é pintado na esfera acadêmica. Mas, todos os obstáculos podem ser superados se houver um plano de carreira alinhado com sua identidade e que, em alguma medida, atenda suas necessidades primordiais.
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