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A entrevista do cliente: o eterno e bom aprendizado

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Desde a minha primeira entrevista com um assistido da antiga Comissão de Assistência Judiciária da OAB/Bahia (CAJ), que estava sendo executado por débito de pensão alimentícia, até os dias atuais; o atendimento da parte proporciona a existência de um vasto “Oceano Azul” na interpretação do que o cliente quer e realmente precisa.

Toda e qualquer entrevista deve apresentar a visão humana do litígio exposto pela pessoa.

A entrevista é um momento essencial para descobrir o que o Cliente almeja e/ou necessita, pois, em determinadas situações, existem divergências entre a realidade e o que o cliente acredita.

Pare, pense e reflita …

Quando um cliente expõe o seu problema e está disposto a provocar o Judiciário para a resolução, você entende que ele quer somente isto ou algo maior? Acredito na segunda opção. Exemplos práticos:

a – Divórcio consensual – Quando o cliente almeja isto, geralmente, já manteve um contato prévio com o (a) consorte e ambos já apresentam uma pré definição para a dissolução da sociedade conjugal. Os mesmos querem evitar as brigas, o risco da eternização do processo, querem seguir suas vidas, pois, muitas vezes, já possuem um outro relacionamento familiar;

b – Despejo por falta de pagamento – O cliente quer somente a retirada do inquilino? Não. Quer muito mais, pois tem o foco na recuperação financeira, patrimonial, considerando que o imóvel não está produzindo rendimentos, em face do contratante faltoso;

c – Defesa do síndico – Todo síndico é um ser corajoso, pois boa parte trabalha muito, é decente, não é reconhecido e, em alguns condomínios, é taxado de tendencioso, mafioso, larápio. O Síndico é o condomínio, pois, pelos seus integrantes, foi eleito e, em face disto, o mesmo PRESENTA o condomínio, manifesta a vontade de toda uma comunidade. Portanto acredito em uma Advocacia que represente o condomínio e proteja o Síndico, salientando que, em determinadas situações, este somente tem o apoio do Advogado;

d – Liminar contra a empresa de plano de saúde – Além do foco de almejar a cobertura do plano de saúde em uma cirurgia, tratamento, impedir o aumento abusivo, o cliente almeja os bens maiores: garantia e qualidade de vida e saúde.

Todo e qualquer entrevistador deve ter, também, o conhecimento da linguagem não verbal: o tom de voz explícita, “camuflada”, modulada no ato da entrevista, a gesticulação, o movimento das mãos, o olhar, como se comporta etc. Deve-se atentar que a análise da linguagem não verbal depende muito da vivência do entrevistador e entrevistado.

Conforme já exposto no artigo de minha autoria, “Para VOCÊ: a Advocacia mais humana”Os fatores emocionais, na maioria das vezes, constituem na real motivação de um processo, aspecto que induz o Advogado a ser desruptivo”.

Deve-se atentar que a carga emocional explicitada em cada parte da entrevista, quer seja na linguagem verbal ou não verbal, pode ser, também, analisada através dos contatos via telefone, gravações, informações de texto, fotos, imagens etc.

Além da análise da linguagem verbal, não verbal e a carga emocional contida, deve-se ficar atento como esta interação pode repercutir no pronunciamento da parte, Advogado perante o Judiciário; pois toda manifestação realizada no processo (petição, depoimento, perícia etc) influenciará no resultado final deste.

Considero que a estratégia a ser utilizada em um processo depende muito da entrevista e percepção das informações provenientes desta; pois o Advogado terá que ter a expertise ao avaliar o problema jurídico, o cliente, os fatos, as emoções envolvidas, terceiros etc.

Meus Caros, considero o processo como um “corpo mental vivo”. Não se engane, pois todo e qualquer litígio jurídico vai além das meras palavras que, em determinadas situações, representam somente 20% ou 30% do mesmo, visto que 80% ou 70% é pura emoção das partes e atores do processo; considerando que as palavras são um mero reflexo da energia que comporifica e movimenta as relações humanas, as emoções, os sentimentos. Portanto a qualidade da verdadeira Advocacia depende muito das vivências do profissional e de como este percebe, interpreta e encara o mundo.

Isto posto, a cada entrevista realizada, é formado mais um “tijolhinho” do conhecimento do comportamento humano a ser adicionado na vivência do Advogado, que necessita ser criativo, disruptivo na análise do seu cliente, fatos, informações apresentados e na forma que todos esses aspectos se interagem no início, desenvolvimento e conclusão do processo.

Alan Dias – Advogado em Salvador – Bahia  e  colunista no site RSDireito.com

E-mail: alandiasadv@gmail.com