O calor escaldante e a seca prolongada que castiga Porto Velho, capital de Rondônia, motivaram a advogada Márcia Regina Pini a abrir o muro da casa dela para a construção de um bebedouro público com água gelada disponível a moradores de rua e qualquer outra pessoa com sede que passar por ali.
A fonte fica na Rua Brasília, no bairro São Cristóvão. Segundo Márcia, sua intenção era apenas “fazer o bem sem olhar a quem”. Ela ficou sensibilizada ao descobrir que vários moradores de rua sofrem com problemas renais por não beberem uma quantidade suficiente de água todos os dias.
Decidida a fazer algo para ajudá-los, ela começou a planejar a construção do bebedouro – para criar a fonte, a advogada comprou uma pia, uma torneira e um equipamento elétrico que mantém a água fresca e gelada. O local ficou pronto há seis meses.
“Eu fiquei pensando em uma forma que eles (moradores de rua) não precisassem tocar a campainha. E não só para atender essa população, mas qualquer pessoa que passar. Afinal, a água é a fonte da vida. A sede é uma tortura“, contou.
De início, Márcia conta que a ideia foi recebida com descrédito e desconfiança por alguns familiares e vizinhos. No entanto, após explicar suas motivações, todos entenderam a relevância da boa ação.
“Às vezes as pessoas têm medo, ficam preocupadas, mas a população de rua não é violenta. Hoje, a gente vê pessoas passando, enchendo a garrafinha e eu fico feliz de poder contribuir.”
Todos os dias, Márcia e sua família limpam o bebedouro e colocam copos descartáveis. Há alguns meses, a vigilância sanitária de Porto Velho visitou o local, conferiu a fonte e bebeu da água. Tudo aprovado.
A advogada criou por conta própria toda a decoração de azulejos. “Eu quis fazer uma arte e tinha alguns restos desse material, planejei e acabou saindo. Lembra uma tulipa.”
Passando por ali para visitar uma loja, o auxiliar de serviços gerais Márcio Kluska se surpreendeu ao perceber a fonte de água gelada no muro. Ele conta não ter pensado duas vezes ao se aproximar para “matar a sede” e se refrescar.
“Normalmente ninguém nem quer mostrar o que tem dentro de casa. Quanto mais dinheiro, menos demonstração. Mas ela tem um bebedouro aí dentro gelando o dia inteiro. Já me ajudou, matou minha sede”, disse.
O bebedouro público também chamou a atenção do autônomo Richardson Bemer. “Fiquei muito surpreso de ver pessoas assim se solidarizando com as outras. Muitas pessoas não têm dinheiro pra comprar uma água engarrafada e esse bebedouro ajuda.”
Segundo Márcia Pini, a próxima ideia a ser executada em breve será uma cantina para fornecer alimentação para aqueles que vivem nas ruas da cidade.
Fonte: G1/Fotos: Diêgo Holanda/G1