Há um ano, o Brasil assistia perplexo à confirmação de que um dos cinco mortos na queda de um avião de pequeno porte em Paraty (RJ). Era o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, 68.
O acidente aconteceu prestes ao ministro, então relator dos processos da Lava Jato no Supremo, homologar as 77 delações da Odebrecht –até ali, o maior acordo de colaboração da operação. Esse contexto levantou dúvidas sobre uma suposta sabotagem na aeronave.
À época, a primeira pessoa mais próxima a Teori a levantar publicamente a questão foi seu filho mais novo, o advogado Francisco Zavascki, 37, em textos no Facebook. Em maio, em nova postagem e após a divulgação de informações sobre as delações do empresário Joesley Batista, dono da JBS, o advogado criticou uma suposta tentativa de o PMDB brecar a Lava Jato. Ele também defendeu o impeachment do presidente Michel Temer (PMDB), relatou a aflição de seu pai com relação a 2017 ao saber “quanto cada um estava afundado nesse mar de corrupção” e concluiu: “não tenho como não pensar que não mandaram matar o meu pai!”
Na terça-feira (2), próximo à tragédia completar um ano, Francisco falou ao UOL sobre a espera pelo resultado das investigações, que não têm prazo para serem encerradas. Passados quase 12 meses, as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, órgãos que podem apontar eventuais responsáveis pela queda da aeronave, seguem sem um resultado final.
A FAB (Força Aérea Brasileira) informou que o órgão responsável por esse tipo de apuração, o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), “não trabalha com prazos para a investigação de acidentes”. “O processo é proporcional à complexidade da ocorrência”, informou, em nota, a instituição.
Segundo o filho do ministro, “um ano sem resposta, para a família, é uma agonia”. “Imagino que, em um caso dessa repercussão, a polícia esteja tomando todas as medidas cabíveis e adotando todas as precauções para que se tenha a conclusão mais segura possível. Mas acho que se justificam as ilações de que também possa ter havido homicídio, já que eram tantas as coincidências e já que o momento era tão propício…”, afirmou, referindo-se à proximidade de homologação das delações pelo relator dos processos no Supremo.
Mas ressalvou: “Ainda não consegui conviver direito com essa perda, ainda não me conformei. Parece que foi ontem e, ao mesmo tempo, parece uma ferida que nunca sara”. Na avaliação dele, Teori representava uma espécie de “ponto de equilíbrio”, dentro do Supremo, em meio à pressão política pelos efeitos da Lava Jato.
“Ele trazia uma harmonia dentro do tribunal, ainda que ele próprio, em dado momento, tenha sentido essa pressão. Embora a relatoria da Lava Jato tenha caído em ótimas mãos [por sorteio, ao ministro Edson Fachin], vejo que a operação perdeu um pouco o ritmo que tinha, assim como se perdeu a própria força que tinha dentro do tribunal –o próprio fato de existirem movimentos para revisar algumas decisões contrárias aos investigados, como a prisão após o julgamento em segunda instância, demonstra esse arrefecimento da operação”, afirmou.
Sobre a postagem de maio passado, em que defendeu o impeachment de Temer, o advogado evitou polemizar. Mas disse: “ainda traduz o que penso”. Que exemplos ficaram do pai ministro, um ano após a perda? A reportagem indagou que tipo de brasileiro, na avaliação do advogado, expressa hoje a “gente honesta” a quem ele se refere. “Com certeza, o ministro Fachin. Trata-se de uma pessoa acima de qualquer suspeita, é um grande brasileiro, e vejo o quanto ele está sofrendo por estar na posição que ocupa hoje”, concluiu.
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